"A gente foi feliz aqui" é um trabalho do artista Paulo Accioly, em Maceió.
Imagine um bairro todo abandonado: casas, ruas e comércios vazios. É essa a história do bairro do Pinheirinho, na cidade de Maceió. Após anos de extração mineral na região, as imensas rachaduras nas construções, fizeram com que as pessoas tivessem que deixar suas residências. Para resgatar suas memórias, o artista Paulo Accioly criou o "A gente foi feliz aqui", proposta artística que cola fotografias em tamanho real, dentro dos apartamentos e casas abandonados.
"Eu morei no bairro. Foi acompanhando a busca por uma nova casa, ver o silêncio sobre a problemática e minha inquietude eterna por fazer algo, que construíram a ideia na minha cabeça", diz Paulo. O artista, que estudava na França enquanto a desocupação aconteceu, conta que pensou no projeto ainda fora do país e o colocou em prática assim que retornou. "Quase que imediatamente, ao chegar em Maceió, já comecei a colocar o projeto em prática. Ver os lambes na parede (e vê-los arrancados não muito tempo depois) me trazem sentimentos contrários de dever cumprido e impotência".
Além de resgatar a memória de tantos moradores, o trabalho também fala de um resgate íntimo da lembrança do próprio artista. Não foram apenas fotografias tiradas ou resgatadas de álbuns, Paulo também ouviu a história dessas pessoas. "Ouvir as histórias dos ex moradores me coloca no fundo de um poço que eu não sabia que existia. Eu entendi muita coisa sobre pertencimento, sobre saudade e sobre comunidade. Isso mudou a minha vida".
O lambe lambe, usado como estética principal desse trabalho, é também uma das principais formas de expressão de Paulo. "O lambe me veio como a técnica que possibilitaria o desenvolver de uma ideia específica. O lambe era perfeito (visualmente, custo, possibilidade de execução) para o A gente foi feliz aqui. Tentei, gostei e agora desenvolvo novos projetos usando ele".
Vale lembrar que Paulo já foi aluno de um dos principais artistas de lambe-lambe do mundo, o francês JR. "Fui aluno dele entre janeiro e julho de 2020. Colei com ele a homenagem ao Adama Traoré e George Floyd e desenvolvi alguns projetos junto a ele e sua equipe", conta. É também por responsabilidade do JR, o público poder ter hoje, os trabalhos de Paulo - "Ele foi o responsável por eu não desistir do fazer artístico e, até hoje, ainda me abre muitas portas. JR é, hoje, um bom amigo!", conclui.
Para quem quiser mais sobre esse e outros projetos do artista Paulo Accioly, vale visitar a rede social através do @pauloaccioly
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